Curiosidade dermatológica

Acredita-se que um dos primeiros relatos de atopia canina seja esse de 1941, o qual curiosamente, foi descrito por um médico da dermatologia humana.

O Dr Wittich, era médico alergologista e professor da Universidade de Minnesota, quando descreveu o caso de uma cachorrinha da raça Fox Terrier que apresentava espirros, lacrimejamento e inúmeras lesões cutâneas na face e corpo. Quando levada para áreas com alta concentração de pólen, o prurido piorava significativamente.

Ela já havia sido tratada por três veterinários conceituados, que imaginavam ser uma doença parasitária. Sem sucesso no tratamento, o tutor procurou o próprio Dr Wittich, um renomado professor alergologista. Ele comenta que embora os veterinários já tivessem observado casos em cães de “hay fever” (febre do feno ou rinite alérgica sazonal), não reconheceram esse quadro como sendo de origem alérgica.

A partir daí, Dr Wittich levanta então a hipótese e publica que aquela cachorrinha provavelmente tinha um quadro semelhante à já descrita atopia em humanos. 

Alguns anos depois, médicos veterinários começam a estudar e compreender melhor essa doença. Mas fato é que desde sempre, a atopia despertava desafios tanto em dermatologistas humanos quanto veterinários. Não por acaso, o nome atopia vem do grego “atopos”, que significa “fora do lugar” (a + topos). Essas reações não se encaixavam em nenhum conhecimento médico na época, pareciam estranhas, ilógicas e totalmente inexplicáveis.

Esse relato também curiosamente reforça que a dermatologia veterinária tem em sua base, uma forte influência da dermatologia comparada.

Não por acaso grandes pioneiros da dermatologia veterinária internacional como Prof George Muller, Robert Kirk, e pioneiros aqui do Brasil, como o Prof Larsson, Cid Figueiredo e alguns outros, descobriram e relataram muitas doenças na veterinária usando a contraparte da dermatologia humana.

Referência

Wittich F.W. Spontaneous allergy (atopy) in the lower animal. Journal of Allergy 1941

Sobre a autora  

Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.