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Seria possível prevenir as piodermites em cães?

Atualizado: 6 de jul. de 2023

Diversos estudos em humanos já demostraram que bactérias comensais como o Staphylococcus epidermidis podem ter um papel fundamental na prevenção da colonização de bactérias patogênicas. Tem sido sugerido que o S. epidermidis tem a capacidade de inibir diretamente a colonização do S. aureus, uma das grandes bactérias envolvidas em quadros de atopia em humanos, através da secreção de serino-proteases.


Além secretar peptídeos antimicrobianos, modular o sistema imunológico, o S. epidermidis ainda produz uma potente esfingomielinase que fortalece a barreira da pele por meio do aumento dos níveis de ceramida. Ou seja, esse microorganismo tem um papel chave na barreira de proteção da pele.


piodermite canina
Papel do S. epidermidis frente ao S. aureus - Image credit: Zhou et al. Heterogeneous regulation of Staphylococcus aureus by different Staphylococcus epidermidis agr types in atopic dermatitis. J Invest Dermatol. 2023

Mas será que o S. epidermidis também exerce efeito protetor em cães?

Embora o S. epidermidis faça parte da microbiota cutânea de cães, seu papel protetor ainda não foi comprovado. Quando alguns pesquisadores analisaram a microbiota de cães para investigar o potencial papel protetor do S. epidermidis, eles perceberam que outras espécies estafilocócicas como S. capitis, S. pasteuri e até mesmo o S. epidermidis estavam presentes na pele do cão. No entanto, todas essas espécies apresentaram baixa abundância relativa tanto em cães saudáveis quanto em cães com piodermite.


O S. pseudointermidius era disparado a espécie estafilocócica mais abudante em todos os tipos de amostras caninas.

piodermite em caes
Embora haja um aparente aumento do S. epidermidis em cães com foliculite, não houve diferença estatística. Imagem: Older et al. Characterization of Cutaneous Bacterial Microbiota from Superficial Pyoderma Forms in Atopic Dogs. Pathogens 2020

Como seria possível prevenir o supercrescimento do S. pseudointermedius em cães?

Embora não existam evidências do papel protetor do S. epidermidis em cães, outras espécies bacterianas e/ou fúngicas certamente desempenham essa função. Conhecer essas espécies e compreender sua interação com a pele dos cães pode levar ao desenvolvimento de terapias que modulem a microbiota cutânea, podendo coibir o supercrescimento do S. peseudointermedius e assim quem sabe "prevenir" o desenvolvimento das piodermites.


Prevenir o incêndio versus apagar o fogo

O raciocínio seria promover o equilíbrio da microbiota através do uso de produtos que favoreçam o crescimento de bactérias benéficas, de forma que essas mesmas bactérias possam inibir o supercrescimento de espécies patogênicas.


Ao invés de “apagar o fogo", utilizando produtos que “matam” bactérias, tanto patogênicas quanto benéficas, o objetivo seria “prevenir o incêndio”, ou seja, estimular o desenvolvimento de bactérias benéficas e, assim, criar um ambiente desfavorável ao supercrescimento de patógenos.


Perspectivas futuras

Certamente esse assunto é bem complexo e envolve múltiplos fatores, especialmente considerando que a maioria das piodermites em cães são secundárias. No entanto, é inegável que a modulação da microbiota cutânea tem um potencial enorme nessa era de resistência aos antibióticos. O desenvolvimento de shampoos, mousses e outros produtos terapêuticos que visem modular a microbiota tem um enorme potencial para auxiliar no tratamento e até quem sabe na prevenção das piodermites em cães. Até que esses produtos inovadores sejam alcançados e estejam disponíveis no mercado, existe um caminho a ser trilhado e desbravado com a pesquisa & inovação veterinária.



Sobre a autora

Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.


Atenção: Este texto é uma criação original e está protegido pela lei de direitos autorais. Todos os direitos estão reservados à autora, sendo proibida a reprodução, distribuição, exibição ou qualquer forma de uso sem a expressa autorização por escrito da autora. Qualquer uso não autorizado do conteúdo deste website constitui violação dos direitos autorais e estará sujeito a medidas legais. Caso você tenha interesse em utilizar este texto ou parte dele, por favor, entre em contato através do seguinte endereço de e-mail: dermaconecta@gmail.com


Referências:

Older, C.E.; Rodrigues Hoffmann, A.; Hoover, K.; Banovic, F. Characterization of Cutaneous Bacterial Microbiota from Superficial Pyoderma Forms in Atopic Dogs. Pathogens 2020


Harris-Tryon TA, Grice EA. Microbiota and maintenance of skin barrier function. Science. 2022


Zheng Y, Hunt RL, Villaruz AE, Fisher EL, Liu R, Liu Q, Cheung GYC, Li M, Otto M. Commensal Staphylococcus epidermidis contributes to skin barrier homeostasis by generating protective ceramides. Cell Host Microbe. 2022


Zhou Y, Xu X, Liu Y, Wang A, Luo Y, Liu X, Wang X, Li W, Yao X. Heterogeneous regulation of Staphylococcus aureus by different Staphylococcus epidermidis agr types in atopic dermatitis. J Invest Dermatol. 2023

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