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Staphylococcus pseudintermedius e piodermite canina

Atualizado: 7 de fev.

Staphylococcus pseudintermedius o que é?

O Staphylococcus pseudointermedius é uma bactéria gram-positiva e coagulase-positiva encontrada na microbiota da pele e mucosas dos cães. Essa bactéria é considerada um microorganismo oportunista, ou seja, é capaz de causar infecções em algumas circunstâncias específicas.


Esta espécie estafilocócica coloniza até 90% dos cães saudáveis e é frequentemente associada a infecções de pele (piodermites) e ouvido, mas pode também estar envolvida em outros tipos de infecções não-cutâneas como infecções do trato urinário, bacteremia e osteomielite. No entanto, ainda não há evidências claras se as espécies comensais causam infecção ou se são isolados externos que iniciam a infecção.


O S. pseudintermedius foi isolado pela primeira vez em 1976. No entanto, foi anteriormente identificado como Staphylococcus intermedius devido às semelhanças morfológicas entre as duas espécies. Em 2005, o S. pseudintermedius foi revelado como uma nova espécie.

Staphylococcus pseudintermedius meticilina-resistente (MRSP)

O Staphylococcus pseudintermedius meticilina-resistente (MRSP) é uma cepa específica dessa bactéria que desenvolveu resistência aos antimicrobianos beta-lactâmicos, como as penicilinas, cefalosporinas e carbapenêmicos.


A resistência à meticilina é mediada pelo gene mecA, que produz uma proteína chamada PBP2a (proteína ligadora de penicilina 2a). Essa proteína alterada tem uma afinidade reduzida pelos antibióticos beta-lactâmicos, dificultando sua ação contra as bactérias. Os S. pseudintermedius resistentes à meticilina (MRSP) são resistentes a todos os antimicrobianos beta-lactâmicos, exceto às cefalosporinas de 5ª geração, como a ceftarolina.


Os antibióticos beta-lactâmicos são amplamente utilizados como agentes de primeira linha na prática clínica de pequenos animais. No entanto, infecções por MRSP multirresistentes que requerem tratamento sistêmico só podem ser abordadas com antibióticos mais antigos, que muitas vezes possuem alta toxicidade (como a rifampicina ou cloranfenicol), ou com medicamentos antimicrobianos considerados de importância crítica na medicina humana (por exemplo, linezolida ou fosfomicina). O uso veterinário desses medicamentos de alta importância clínica na medicina humana foi proibido na União Europeia desde de fevereiro de 2023, o que limita ainda mais as opções terapêuticas eficazes para infecções por MRSP na medicina veterinária.



Fatores de risco

Fatores de risco potenciais para infecção por MRSP incluem o uso frequente de antimicrobianos no tratamento de infecções crônicas, exposição prévia a MRSP em um ambiente hospitalar, etc. Estudos sugerem que a formação de biofilme bacteriano também pode estar associada à resistência aos agentes antimicrobianos, o que pode contribuir para o desenvolvimento de infecções crônicas.


Biofilmes bacterianos

Segundo estudos, muitas das cepas de S. pseudintermedius MRSP tem a capacidade de formar biofilmes, sendo classificadas como fortes ou moderadas produtoras de biofilme. Esses biofilmes podem proteger as bactérias do sistema de defesa do hospedeiro, bem como de desinfetantes e antibióticos. Eles atuam como barreiras, bloqueando ou retardando a penetração de moléculas de antibióticos, exigindo concentrações muito mais elevadas (até 1000 vezes) para serem eficazes. Além disso, a formação de biofilme pode levar ao desenvolvimento de infecções crônicas e ao surgimento de resistência aos antibióticos. Esse fator de virulência desempenha um papel significativo na rápida disseminação dessa bactéria em hospitais veterinários ao redor do mundo.



Como tratar Staphylococcus em cães

Diretrizes recentes (Morris et al 2017), afirmam que a terapia tópica é a opção recomendada para casos de piodermite superficial. As terapias tópicas podem incluir uma variedade de formulações, como xampus, loções, géis, cremes e pomadas, contendo diferentes anti-sépticos e ingredientes ativos.


Terapia tópica para tratar piodermite superficial

Os xampus são uma das terapias tópicas mais comuns utilizadas no tratamento da piodermite canina, pois ajudam a remover bactérias patogênicas e geralmente são uma opção menos onerosa. Estudos anteriores mostraram que xampus contendo diversos ingredientes ativos, como peróxido de benzoíla, ácido salicílico, hipoclorito de sódio e clorexidina, são eficazes no tratamento da piodermite superficial. O tratamento combinado com xampu de clorexidina também tem demonstrado eficácia nos casos de piodermite causados pelo Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina, podendo ser tão eficaz quanto a antibioticoterapia sistêmica.


A resistência do MRSP a múltiplos antibióticos representa um desafio clínico. Além da resistência à meticilina, o MRSP pode apresentar resistência a outros antimicrobianos. Isso limita as opções de tratamento disponíveis e pode exigir o uso de antibióticos alternativos reservados para infecções graves ou resistentes.


Na medicina veterinária, o surgimento do MRSP representa um novo desafio devido à limitação das opções terapêuticas. Portanto, é necessário buscar novos compostos ou extratos naturais como alternativas para o tratamento da resistência bacteriana, como óleos essenciais e extratos de plantas, que são populares como remédios naturais tanto na medicina humana quanto na veterinária. Essas abordagens podem fornecer opções terapêuticas adicionais e auxiliar na luta contra as infecções por MRSP.




Aspecto zoonótico

O S. pseudintermedius tem sido associado a vários casos de colonização e infecções em seres humanos, principalmente devido ao contato próximo entre cães de estimação e pessoas. As primeiras infecções humanas por S. intermedius (provavelmente S. pseudintermedius) foram descritas antes de 2005 e incluíram tanto infecções profundas quanto superficiais.

A maioria das publicações sobre S. pseudintermedius resistente a antibióticos concentra-se em isolados obtidos de cães, enquanto há poucos relatos de MRSP em seres humanos na literatura. A colonização por S. pseudintermedius é muito semelhante à colonização por S. aureus em humanos, sendo as narinas humanas a fonte mais comum de colonização.

Além disso, os S. pseudintermedius MRSP representam um problema emergente que aumenta o risco para a saúde pública, pois os antimicrobianos importantes no tratamento de infecções bacterianas em seres humanos são frequentemente utilizados para tratar animais de estimação. Além disso, os animais de estimação podem ser reservatórios potenciais de bactérias resistentes, o que pode representar um desafio na prevenção e no controle de infecções por MRSP em humanos.


O ambiente doméstico tem sido destacado para potencial contaminação por cães portadores de MRSP, fornecendo uma fonte para possível futura reinfecção. Alguns estudos identificaram MRSP mais comumente em áreas acessíveis a cães, como locais onde ocorre a alimentação e onde o cão dorme.


Staphylococcus pseudintermedius em cães

Nos últimos anos, o Staphylococcus pseudintermedius resistente à meticilina (MRSP) tornou-se o principal patógeno bacteriano multirresistente (MDR) em infecções caninas de pele e tecidos moles. Vários estudos isolaram S. pseudintermedius de 46-92% dos cães saudáveis, com maior prevalência no períneo, seguido pela mucosa nasal ou oral.


Conclusões

A utilização incorreta ou excessiva de antibióticos desempenha um papel significativo no desenvolvimento de resistência em bactérias. Para retardar o progresso do desenvolvimento de multirresistência bacteriana e reduzir a propagação de bactérias resistentes a medicamentos, tanto os veterinários quanto os tutores de animais devem adotar uma abordagem prudente no uso de antimicrobianos.


Perguntas frequentes da internet


O que causa Staphylococcus pseudintermedius?

O S. pseuintermedius já é uma bactéria que coloniza a pele de cães saudáveis. No entanto, alguns fatores podem causar a proliferação da bactéria e infecção cutânea: alergias (atopia, alergia alimentar), distúrbios da queratinização, etc.


O que é Staphylococcus em cachorro?

O Staphylococcus é uma bactéria que naturalmente já está presente na pele dos cães e faz parte da microbiota. Porém, quando em excesso essa bactéria pode causar lesões de pele como pápulas , pústulas, etc.


Como tratar Staphylococcus pseudintermedius?

Os shampoos ou soluções tópicas contendo ingredientes ativos, como peróxido de benzoíla, ácido salicílico, hipoclorito de sódio e clorexidina, podem ser eficazes no tratamento. Além disso, podem ser utilizados antibióticos orais como os beta-lactâmicos.


Sobre a autora

Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.


Atenção: Este texto é uma criação original e está protegido pela lei de direitos autorais. Todos os direitos estão reservados à autora, sendo proibida a reprodução, distribuição, exibição ou qualquer forma de uso sem a expressa autorização por escrito da autora. Qualquer uso não autorizado do conteúdo deste website constitui violação dos direitos autorais e estará sujeito a medidas legais. Caso você tenha interesse em utilizar este texto ou parte dele, por favor, entre em contato através do seguinte endereço de e-mail: dermaconecta@gmail.com


Referências:

Park SY, Lee JH, Ko SY, Kim N, Kim SY, Lee JC. Antimicrobial activity of α-mangostin against Staphylococcus species from companion animals in vitro and therapeutic potential of α-mangostin in skin diseases caused by S. pseudintermedius. Front Cell Infect Microbiol. 2023 May 25;13:1203663.


Börjesson S, Gómez-Sanz E, Ekström K, Torres C, Grönlund U. 2015. Staphylococcus pseudintermedius can be misdiagnosed as Staphylococcus aureus in humans with dog bite wounds. Eur J Clin Microbiol Infect Dis34:839–844.


Lynch SA, Helbig KJ. 2021. The complex diseases of Staphylococcus pseudintermedius in canines: where to next? Veterinary Sciences 8:11.


Morris D.O., Loeffler A., Davis M.F., Guardabassi L., Weese J.S. Recommendations for approaches to meticillin-resistant Staphylococcalinfections of small animals: Diagnosis, therapeutic considerations and preventative measures. Clinical Consensus Guidelines of the World Association for Veterinary Dermatology. Vet. Dermatol. 2017;28:304-e69. doi: 10.1111/vde.12444.



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