top of page
parceiros-dermaconecta.png

Você já ouviu falar sobre limiar de prurido em cães?

Atualizado: 30 de ago. de 2023

Uma das primeiras vezes em que esse conceito foi abordado foi no início dos anos 2000 pela Dra Rosanna Marsella (pesquisadora veterinária da Universidade da Flórida, EUA).


Apesar de ser um conceito de natureza teórica, ele é amplamente empregado na dermatologia veterinária, e fornece orientação valiosa ao clínico para desenvolver um plano terapêutico mais eficaz.


O que é o limiar de prurido?

O limiar de prurido é a quantidade de estímulos pruriginosos necessária para desencadear uma resposta de prurido na pele do animal.


Segundo essa teoria, o animal é capaz de tolerar certa quantidade de estímulos pruriginosos sem manifestar prurido. Uma vez que esse limite é excedido, inicia-se o quadro pruriginoso. Assim, grande parte do manejo das dermatopatias pruriginosas envolve a identificação desse limiar de prurido e a remoção ou correção desses fatores. O objetivo é reduzir o nível de estímulos pruriginosos a ponto de colocar o paciente abaixo do limiar de prurido.


Atenção: Vale lembrar que cada animal tem um limiar de prurido diferente.


Alguns exemplos de estímulos pruriginosos

-Presença de pulgas

-Ácaros

-Alérgenos

-Infecções bacterianas (Piodermites)

-Infecções fúngicas (Malassezia)

limiar de prurido
Imagem adaptada: Rosanna Marsella 2013

Dermatite atópica canina

Devido à sensibilização imunológica, cães com dermatite atópica tendem a ter um limiar de prurido mais baixo quando comparados a cães saudáveis.


Isso significa que cães atópicos podem começar a se coçar ou lamber mesmo em resposta a níveis mínimos de estímulos irritantes. Isso pode incluir coisas como pequenas quantidades de alérgenos no ambiente, substâncias químicas em produtos de higiene ou até mesmo o contato com certos tecidos ou materiais.

Imagem adaptada: Rosanna Marsella - Observe que distintos cães tem distintos limiares de prurido


Soma de efeitos

Um aspecto crucial a ser considerado é o efeito somatório dos diversos estímulos pruriginosos. Embora cada estímulo isoladamente possa não induzir prurido, sua soma pode ultrapassar o limiar, desencadeando o quadro pruriginoso. Isso enfatiza a importância da identificação e tratamento de todas as causas de prurido para um manejo terapêutico eficaz.


Aplicação prática: um cão com alergia a ácaros que, por si só, pode não provocar um desconforto significativo a ponto de desencadear prurido. No entanto, quando somamos o efeito dessa alergia com outra alergia ou fator pruriginoso concomitante, o cão pode ultrapassar o limiar de prurido, resultando na manifestação do prurido.


Por isso, ao estabelecer um plano terapêutico de um cão atópico, é primordial eliminar ou diminuir qualquer estímulo adicional para evitar que o paciente ultrapasse o seu limiar de prurido. A eliminação de ectoparasitas, infecções bacterianas, fúngicas, dentre outros fatores potencialmente pruriginosos é essencial. Estes fatores exacerbam o prurido, dificultando a resposta aos tratamentos.



Vale lembrar que os cães atópicos são mais propensos a desenvolver infecções cutâneas secundárias, em parte porque acredita-se que eles têm uma disfunção na barreira cutânea e podem inclusive ter disbiose recorrente.


Manutenção da função de barreira epidérmica

Importante pensar que o prurido na DAC pode ser da própria dermatite alérgica como também fruto de uma piodermite secundária, por exemplo. Reforçar a barreira cutânea é essencial para evitar a perda transepidérmica de água, que pode resultar em xerose (pele seca), facilitando a penetração percutânea de alérgenos ambientais e resultando na ativação da cascata da inflamação e do prurido.


Atenção: Por isso a manutenção da barreira cutânea em cães atópicos é um componente chave do plano terapêutico.



A utilização de xampus hidratantes, emolientes e/ou umectantes desempenha um papel fundamental na restauração da barreira epidérmica.


Emolientes e hidratantes: O uso de emolientes e hidratantes tópicos pode ser útil para melhorar a hidratação da pele e fortalecer a função de barreira cutânea. Isso pode ajudar a reduzir o prurido e a inflamação. Ingredientes como ceramidas, ácido hialurônico e ureia são comumente encontrados nesses produtos.


Xampus com aveia coloidal: ajudam a hidratar a pele, aliviar o prurido (coceira) e melhorar a função de barreira cutânea. Eles também podem ajudar a remover alérgenos e substâncias irritantes presentes na pele do cão.


O sucesso do controle sintomático do prurido está diretamente relacionado à minimização dos diversos fatores etiológicos (ectoparasitas, piodermites, dermatite por Malassezia, etc). Além disso, é aconselhável evitar produtos com fragrâncias intensas, bem como água de banho excessivamente quente e secadores/sopradores do petshop muito quentes.


Considerações Finais

A compreensão do limiar de prurido é um componente-chave para que os veterinários possam desenvolver planos terapêuticos mais eficazes. O controle das hipersensibilidades adicionais e o tratamento de infecções secundárias são passos cruciais para eliminar estímulos extras e evitar que o paciente alcance o limiar de prurido. Este enfoque integrado é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos cães com dermatite atópica.


Referências

Marsella R, Sousa CA. The ACVD task force on canine atopic dermatitis (XIII): threshold phenomenon and summation of effects. Vet Immunol Immunopathol. 2001 Sep 20;81(3-4):251-4. doi: 10.1016/s0165-2427(01)00303-8. PMID: 11553387.


Marsella R. Equine allergy therapy: update on the treatment of environmental, insect bite hypersensitivity, and food allergies. Vet Clin North Am Equine Pract. 2013 Dec;29(3):551-7. doi: 10.1016/j.cveq.2013.08.006. Epub 2013 Sep 24. PMID: 24267674.


Bruet V, Mosca M, Briand A, Bourdeau P, Pin D, Cochet-Faivre N, Cadiergues MC. Clinical Guidelines for the Use of Antipruritic Drugs in the Control of the Most Frequent Pruritic Skin Diseases in Dogs. Vet Sci. 2022 Mar 22;9(4):149. doi: 10.3390/vetsci9040149. PMID: 35448647; PMCID: PMC9030482.


OLIVRY, T. & BANOVIC, F. (2019) Treatment of canine atopic dermatitis: time to revise our strategy? Veterinary Dermatology 30, 87–90


OLIVRY, T., DEBOER, D. J., FAVROT, C., JACKSON, H. A., MUELLER, R. S. & NUTTALL, T. (2010) Treatment of canine atopic dermatitis: 2010 clinical practice guidelines from the International Task Force on Canine Atopic Dermatitis. Veterinary Dermatology 21, 233–248


OLIVRY, T., DEBOER, D. J., FAVROT, C., JACKSON, H. A., MUELLER, R. S., NUTTALL. T. & OTHERS (2015) Treatment of canine atopic dermatitis: 2015 updated guidelines from the International Committee on Allergic Diseases of Animals (ICADA). BMC Veterinary Research 11, 210


Sobre a autora

Dra Aline Santana é médica veterinária formada pela Universidade Federal de Viçosa, com residência em clínica médica de pequenos animais pela mesma instituição. Possui mestrado e doutorado em Ciências pelo Departamento de Clínica Médica da FMVZ/USP, com período de intercâmbio realizado no exterior (University of Minnesota, Estados Unidos). Desde 2012, Dra. Aline Santana é sócia da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV). Durante o período de 2015 a 2021, atuou como diretora de mídias e colaboradora da SBDV.


Atenção: Este texto é uma criação original e está protegido pela lei de direitos autorais. Todos os direitos estão reservados à autora, sendo proibida a reprodução, distribuição, exibição ou qualquer forma de uso sem a expressa autorização por escrito da autora. Qualquer uso não autorizado do conteúdo deste website constitui violação dos direitos autorais e estará sujeito a medidas legais. Caso você tenha interesse em utilizar este texto ou parte dele, por favor, entre em contato através do seguinte endereço de e-mail: dermaconecta@gmail.com

newsletter-dermatologia.png

Newsletter

Mais recentes

banner-lateral.png

Categorias

bottom of page