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Dermatite Atópica Canina: Qual a melhor opção terapêutica?

Atualizado: 3 de abr.

Atualmente, são várias as opções terapêuticas disponíveis para o controle da Dermatite Atópica canina. Por vezes, a questão que se coloca é “Qual a melhor opção terapêutica para este caso em particular?”


Devemos lembrar que a maioria dos casos exige uma terapia multimodal, na qual aplicamos várias medidas, para conseguirmos atingir cada um dos objetivos terapêuticos.

 

Terapia para DAC: crises agudas x quadros crônicos

Em primeiro lugar, precisamos levar em consideração se pretendemos delinear um protocolo terapêutico para uma crise aguda ou para um quadro crônico pois, consoante a isso, os objetivos da terapêutica serão distintos.


Nas crises agudas, temos como objetivos principais:

  • Eliminar as causas alergênicas mais importantes (pulgas, alérgenos alimentares e alérgenos ambientais)

  • Controlar as infeções bacterianas e/ou fúngicas

  • Restaurar a barreira cutânea

  • Controlar o prurido


Em quadros crônicos, devemos considerar:

  • Controle regular antipulgas

  • Redução da carga de alérgenos ambientais (se possível)

  • Imunoterapia alérgeno-específica

  • Controle das infeções bacterianas e/ou fúngicas

  • Shampoos adequados ao tipo de lesões tegumentares (ex: shampoos calmantes, antissépticos, antisseborreicos, etc)

  • Suplementação com ácidos graxos essenciais (consulte esse estudo - link)

  • Controle do prurido

 

Terapia para DAC: terapêuticas básicas x complementares

Para atingirmos todos estes objetivos, existe uma série de opções terapêuticas que podemos dividir em terapêuticas básicas e terapêuticas complementares. As primeiras são aquelas que, na maioria dos casos, são indispensáveis para o controle adequado do prurido e onde atualmente se incluem:


  • Glicocorticóides

  • Oclacitinib

  • Ciclosporina

  • Lokivetmab


Já as terapêuticas complementares, incluem todas as restantes medidas, nomeadamente o controle regular de ectoparasitas; diminuição ou exposição controlada aos alérgenos para os quais o animal se encontra sensibilizado; o controle das infeções cutâneas secundárias; a terapia tópica direcionada e as medidas para restauração da barreira cutânea.


Por vezes, a dificuldade reside na seleção da melhor opção terapêutica para cada caso. De fato, não existe uma “receita” única, pois são vários os fatores a considerar para cada paciente, como fatores intrínsecos ao próprio animal, fatores inerentes a cada uma das opções terapêuticas, além é claro, das preferências ou disponibilidades do tutor.

Fatores intrínsecos ao animal

·       Idade

·       Presença de comorbidades

·       Grau de prurido

·       Gravidade das lesões cutâneas (CADESI-04)

·       Presença/Ausência de infeções secundárias

·       Temperamento

·       Quadros agudos/crônicos

Fatores relacionados ao tutor

·       Facilidade de administração

·       Disponibilidade econômica

·       Tempo para a administração terapêutica

Terapêutica básica para controle do prurido

Para cada uma das opções existentes, os estudos revelam níveis de eficácia muito semelhantes, na ordem dos 70-80%. E não existe nenhuma forma de prever qual delas vai ter melhor resultado para o paciente que temos em mãos, sem ser prescrevendo e avaliando a resposta individual. Além do mais, o fato de um animal não responder bem a uma molécula não significa que não vai responder bem às outras opções terapêuticas.


Glicocorticóides 

Todos sabemos que os corticóides apresentam efeitos colaterais complexos quando usados a longo prazo, mas podem ser bastante úteis em situações agudas como forma de induzir a remissão sobretudo em casos com níveis elevados de inflamação e/ou prurido, iniciando normalmente na dose de 0.5-1.0mg/kg SID durante 5-7 dias, seguidos de um período de desmame. Têm ainda como vantagem o seu baixo custo.


Oclacitinib 

Boa alternativa antipruriginosa, que pode ser utilizada tanto em quadros agudos como crônicos, tendo um efeito anti-inflamatório moderado. Pode ser igualmente útil para controle dos sintomas durante a primeira fase de dieta de eliminação, já que o seu efeito é bastante rápido. Licenciado para cães a partir dos 12 meses de idade, possui poucos efeitos coletareis reportados, sendo os mais comuns os de origem gastrointestinal como a redução do apetite, os vômitos e a diarreia. Deve ser evitado em casos de infeção sistêmica e em animais com histórico de neoplasia. Para maiores informações consulte essa página (link).


Lokivetmab

Tem boa ação antipruriginosa com efeitos colaterais sendo reportados como raros. Pode ser usado em cães com menos de 12 meses ou com comorbidades e até em associação com outras medicações. Tem efeito rápido (horas a 3 dias) e uma duração de 4 a 8 semanas de acordo com o fabricante. Para maiores informações consulte essa página (link).


Ciclosporina

Esse medicamento normalmente começa a fazer efeito em 2-4 semanas apresentando efeito máximo por volta dos 2-4 meses de tratamento, pelo que deverá ser preferencialmente uma opção terapêutica reservada para controle crônico do prurido. Pode apresentar efeitos adversos, como gastrointestinais, hisurtismo, hiperplasia gengival e papilomas. Recomenda-se o acompanhamento regular das enzimas hepáticas e hemograma.


Quadros de resolução difícil: como proceder?

Em todos os casos de difícil resolução, devemos considerar os seguintes pontos:


1.     Exclusão de ectoparasitas: foi realizada de forma adequada?

2.     Exclusão de infeções bacterianas e/ou fúngicas secundárias: foi realizada de forma adequada?

3.     Iniciar o protocolo terapêutico com uma abrangência maior no que se refere à inibição da ação das citocinas envolvidas na reação alérgica. E posteriormente, fazendo a transição para uma terapêutica mais restrita quanto às citocinas-alvo.


Glicocorticóides > Ciclosporina > Oclacitinib > Lokivetmab


dermatite atopica canina
Adaptado de: Treatment of canine atopic dermatitis: time to revise our strategy? - Olivry et al 2019

A importância da terapia tópica

A terapia tópica inclui shampoos, mousses, sprays e pomadas que podem ser úteis tanto para controle de infeções bacterianas/fúngicas secundárias quanto para o controle da inflamação. Permitem-nos, muitas vezes, reduzir a utilização de antibióticos e até mesmo de antifúngicos orais.



O exemplo particular do Aceponato de hidrocortisona:

Estudos indicam que a pulsoterapia com aceponato de hidrocortisona pode ser útil a longo prazo para reduzir a frequência das crises. É uma ferramenta particularmente útil para aplicação nas zonas interdigitais e até mesmo nos canais auriculares.


Sobre a autora do texto

Daniela Matias – Médica Veterinária. A Dra Daniela acumula 10 anos de experiência em Clínica de Animais de Companhia, com ênfase em Dermatologia e Alergologia veterinária. Possui pós-graduação em Dermatologia de Pequenos Animais pela Improve International, tendo recebido o General Practitioner Certificate in Dermatology pela European School of Veterinary Postgraduate Studies, e Formação Avançada em Imunoalergologia Veterinária pela Universidade de Évora em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica. Atualmente cursa seu doutorado na Universidade de Évora e trabalha com Dermatologia e Alergologia em pequenos animais, oferecendo consultas de primeira e segunda opinião, bem como consultas de referência.






Atenção: Este texto é uma criação original e está protegido pela lei de direitos autorais. Todos os direitos estão reservados à autora, sendo proibida a reprodução, distribuição, exibição ou qualquer forma de uso sem a expressa autorização por escrito da autora. Qualquer uso não autorizado do conteúdo deste website constitui violação dos direitos autorais e estará sujeito a medidas legais

 

Referências

Bensignor E., Germain P.A., Roussel A., Viaud S., Videmont E., Chala V., Coedo R. & Navarro C. (2017). Safety of a proactive therapy with hydrocortisone aceponate (Cortavance®) in the ears to reduce the risk of recurrence of otitis externa in atopic dogs: a retrospective study. Proceedings, Southern European Veterinary Conference SEVC. Barcelona, Spain.


Cosgrove, S. B., Wren, J. A., Cleaver, D. M., Martin, D. D., Walsh, K. F., Harfst, J. A., Follis, S. L., King, V. L., Boucher, J. F., & Stegemann, M. R. (2013). Efficacy and safety of oclacitinib for the control of pruritus and associated skin lesions in dogs with canine allergic dermatitis. Veterinary dermatology24(5), 479–e114. https://doi.org/10.1111/vde.12047


Lourenço, A. M., Schmidt, V., São Braz, B., Nóbrega, D., Nunes, T., Duarte-Correia, J. H., Matias, D., Maruhashi, E., Rème, C. A., & Nuttall, T. (2016). Efficacy of proactive long-term maintenance therapy of canine atopic dermatitis with 0.0584% hydrocortisone aceponate spray: a double-blind placebo controlled pilot study. Veterinary dermatology27(2), 88–92e25


Miller, J., Simpson, A., Bloom, P., Diesel, A., Friedeck, A., Paterson, T., Wisecup, M., & Yu, C. M. (2023). 2023 AAHA Management of Allergic Skin Diseases in Dogs and Cats Guidelines. Journal of the American Animal Hospital Association59(6), 255–284. https://doi.org/10.5326/JAAHA-MS-7396


Olivry, T., & Banovic, F. (2019). Treatment of canine atopic dermatitis: time to revise our strategy?. Veterinary dermatology30(2), 87–90


Olivry, T., DeBoer, D. J., Favrot, C., Jackson, H. A., Mueller, R. S., Nuttall, T., Prélaud, P., & International Committee on Allergic Diseases of Animals (2015). Treatment of canine atopic dermatitis: 2015 updated guidelines from the International Committee on Allergic Diseases of Animals (ICADA). BMC veterinary research11, 210.

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